A ESPADA MÁGICA CHAMADA MICROFONE

O relato é do jornalista ALEXANDRE GARCIA, em entrevista concedida à emissora para o aniversário dos 60 anos.

Nesta história, ele recorda de um episódio que viveu na companhia do seu pai Oscar Chaves Garcia, que entrou para a Rádio Independente em 1956 e ficou por vários anos atuando na emissora, inclusive, por algum período, Alexandre e seu pai foram colegas - o pai como gerente, o filho como repórter.



Oscar Chaves Garcia

 A transmissão dos jogos de futebol era via telefone e às vezes não havia linha telefônica até o estádio. Então meu pai fazia ligações pelo arame farpado de cercas, que serviam de fio ( de telefone). O pessoal tinha muito respeito pelo microfone.

Eu lembro que acompanhei o meu pai numa partida em Guaporé entre o Guaporense e o Fortes Livres de Muçum. Era partida decisiva pela zona leste, imagino. O juiz se chamava Queirolo Campos. Ele apitou um pênalti contra o time local, contra Guaporense, no último minuto. Era um pênalti que decidiria a partida. Ora, não havia alambrado, a torcida invadiu o gramado e queria quebrar o Queirolo Campos, que já era um homem de nariz quebrado.

Onde ele se refugiou da multidão que queria linchá-lo? Lá no meu pai!

Meu pai segurava o microfone como se fosse uma espada. Uma espada de "Guerra nas Estrelas".

As pessoas se afastavam com medo do microfone.

Eu achei aquilo uma coisa inédita, inusitada. E foi assim que ele salvou a vida do Queirolo Campos, graças à espada mágica chamada microfone.

Meu pai foi um grande incentivador do esporte amador na região. 

“...por hoje é só, bom dia amigos!”

 Lauro Mathias Müller

Ele  tinha admiração pela política. Seus comentários eram respeitados, mesmo quando criticados e contestados.  Ele costumava encerrar sua considerações com a frase “por hoje é só, bom dia amigos!” como uma despedida individual para cada ouvinte.

Homenagem de escolas de Lajeado a Lauro Müller

Sua palavra representava ao ouvinte sempre a realidade atualizada e, na maioria das vezes, significava uma verdade inquestionável, tanto que o próprio jornalista se surpreendia com a repercussão do que dizia ao microfone.



Lauro e Lya Müller apresentando baile de debutantes no interior do município de Lajeado



Além de dirigir a empresa, realizar coberturas, controlar o departamento de jornalismo e participar de todas as atividades sociais e culturais, Lauro Müller foi o responsável pela criação das promoções realizadas pelo Grupo Independente, muitas delas mantidas até hoje.



Acompanhado de sua esposa, Lya Raya Müller, começou a organizar festas no interior, com isso, as pessoas que faziam parte dos clubes e sociedades começaram a ser valorizadas pelo seu trabalho e souberam levar  adiante tudo o que ele transmitiu. (Pesquisa de Greici Feldens Ruaro - TC de Jornalismo, Ulbra, 2005)


DEPOIMENTO DE ADAIR GILBERTO WEISS, hoje diretor do Jornal A Hora dos Vales

A Rádio Independente oferece oportunidades, não apenas para quem nela trabalha, mas para a região como um todo.



Adair Weiss
(foto: arquivo emissora)



A pessoa que alavancou tudo isso foi Lauro Müller.

E quando se fala em Rádio Independente, não tem como não falar em Lauro Müller.

Convivi com ele por seis anos, infelizmente não foi por muito tempo, mas o suficiente para enxergar nele uma figura extraordinária, não só na área do jornalismo, mas no aspecto humano.

Foi um grande homem, um grande líder, um exemplo de vida que fica para todos que conviveram com ele ou até mesmo para aqueles que não o conheceram pessoalmente, mas que acompanharam a sua história através dos microfones da emissora.

Adair Weiss trabalhou no Grupo Independente de março de 1994 a outubro de 2007, tendo exercido várias funções, entre as quais, a coordenação do Departamento de Jornalismo da emissora.

A RESPONSABILIDADE DE QUEM ESTÁ "NO AR"

PENSAMENTOS DO RADIALISTA FABIANO CONTE  

Desde 2009, reativamos o programa “Panorama”,que foi criado por Lauro Müller. Quando anunciamos que o programa retornaria, acredito que muitas pessoas pensaram que seria no mesmo formato da época do Seu Lauro. Hoje está remodelado. Primeiro, porque Seu Lauro não tinha os recursos que nós temos hoje: vários repórteres fazendo matérias especiais, unidade móvel, participação ao vivo. À época, era centralizado nele.

Lauro Mathias Müller

Ele chegava na segunda-feira e dizia onde  ele tinha ido no final de semana e as pessoas gostavam de ouvir. Ele tinha um comentário muito forte, que é o Comentário de Frente, onde ele dava a sua opinião e era muito respeitado.

Fabiano Conte apresentando programa
na Praça em Arroio do Meio, em 2007.

Nos temos a responsabilidade de manter a credibilidade que foi conquistada na época do Seu Lauro.  

No momento que tu abres o microfone, teres a certeza daquilo que estás falando e as pessoas do outro lado ficarem com a certeza de que aquela informação é verdadeira, isso é fundamental!   E isso a nossa equipe vem fazendo muito bem porque está ciente do compromisso que tem com o ouvinte. 



Programa especial no aniversário de Encantado, em 2007.
Transmissão ocorrida no saguão do Centro Administrativo Municipal.



Fabiano Conte está no Grupo Independente desde 1992.

Atualmente, é gerente da Tropical FM, emissora onde apresenta o "Rádio Café", das 6 às 8 horas.

Na Rádio Independente, é âncora do programa "Panorama", de manhã das 8 às 9 horas, e do "Panorama Edição da Tarde", que vai ao ar das 18 às 19 horas.

AS LEMBRANÇAS E OBSERVAÇÕES DO MÉDICO MATHIAS LAURO KLEIN

Ditmar Born (E)  relembra a história da Rádio
Independente com Mathias Lauro Klein

Inauguração da emissora, em 1951:

Naquele tempo estava em evidência o jogo político. Seu Pedro Albino Müller era um homem de partido.

Sobre o cunhado Lauro Müller:

O Lauro era para trabalhar na loja (da família),  fez curso de contabilista, mas não se interessava muito. Quando a emissora foi inaugurada, Seu Pedro Albino  já tinha planos para o futuro profissional do filho. Isso ele (Pedro Albino)  contou para mim.  E foi o maior impulso, com o correr do tempo, não posso precisar se foi depois de meio ano, um ano. Foi daí que a Rádio Independente explodiu.

O Lauro teve a idéia de transmitir o futebol dos clubes do interior, depois os bailes de interior, os bailes de kerb.

 A esposa Lya acompanhava as festas.
E isso se espalhou, todas as sociedades convidavam o Lauro para participar. O Lauro e a esposa.

A agenda deles sempre estava com a programação tomada. Todos os dias era possível ouvir o que teria no final de semana. A rádio já era muito escutada.

A emissora foi crescendo na região e teve o mérito do Seu Lauro. Ela hoje tem uma penetração muito grande. As pessoas escutam por causa da sintonia, a captação é muito boa, e porque ficam atualizadas sobre a região.




Na foto, Renato Hilgert (E), Xyco Barzotto, Nerlinho, Lauro Müller.
O operador de áudio  é Cássio Fernando, que trabalhou na emissora na década de 80.

 

O importante do trabalho do Lauro é que ele preparou sucessores, como os comunicadores que estão até hoje: Paulo Rogério, Renato Worm,...

Só posso dizer que a Rádio Independente é um exemplo de progresso dentro de uma comunidade. 

O médico Mathias Lauro Klein é casado com Lenira Klein, irmã de Lauro Müller.

SOBRE A CARREIRA DE RENATO WORM NO GRUPO INDEPENDENTE

O APRENDIZADO E O DESEJO DE SER UM BOM PROFISSIONAL

Uma das pessoas que serviu como referência para mim, no início da  carreira, foi o radialista Lucindo Amaral, que já tinha trabalhado na Rádio Independente. Ele estava numa emissora de Caxias e retornava a Lajeado nos finais de semana para visitar a mãe dele.
Um dia ele veio na rádio conversar comigo para que nós trocássemos vinhetas. Ele gravava vinhetas de programas para mim e eu gravava para ele. 
Aprendi com o Lucindo o que era comunicação no rádio, porque até então nós não estávamos fazendo comunicação. Nós estávamos anunciando música, lendo pedido, dedicatória... Só locução. E aí o Lucindo me dizia:- eu coloco o telefone no ar, eu faço charadinhas, eu sorteio brindes.

Lucindo Amaral trabalhou na emissora na década de 1970. Pelos colegas da época ele é lembrado como um conceituado radialista, dono de um carisma marcante aliado a uma potente voz.

 

João Pedro Müller (E), Jacy Pretto, Renato Worm, Daian Feldens e Nadir Giovanella



A INTERATIVIDADE COM O OUVINTE 

Em 1977, Renato Worm apresentava o programa “Show da Tarde”, das 15 às 17 horas. 

Para aprender com Lucindo, ele estacionava o carro nas imediações da barranca do Rio Taquari, num ponto onde conseguia sintonizar a Rádio Caxias. 

 Acompanhava Lucindo para depois fazer algo parecido no seu programa.

 Ele recorda que na primeira vez em que colocou o telefone no ar à disposição do ouvinte, Lauro Müller ligou preocupado para Renato questionando se ele sabia o que estava fazendo. 

O receio do Seu Lauro era por causa da ditadura. Qualquer deslize poderia tirar a rádio do ar, por determinação do Dentel, à época Departamento Nacional de Telecomunicações, e das Forças Armadas.

 Talvez fosse uma estratégia arriscada e que poderia gerar desgastes já que não havia como controlar o que seria dito pelo interlocutor, o ouvinte. 

 No entanto, Renato não se intimidou porque acreditava que este era o caminho para promover a interatividade e comenta que, a partir desse momento, passou a fidelizar a audiência,  tanto é que muitas pessoas ainda recordam detalhes de programas apresentados.

  Particularmente, me incluo entre esses antigos ouvintes da Rádio Independente.

Ainda criança, na comunidade de Rui Barbosa, hoje pertencente a Canudos do Vale, de um rádio a pilha, acompanhava o programa que Renato Worm apresentava na emissora.  

Entre as atrações estavam as charadinhas (perguntas e adivinhações engraçadas), que eram lançadas no ar e os ouvintes ligavam para responder.

 Recordo que muitas empregadas domésticas telefonavam para oferecer músicas ou mesmo para participar das brincadeiras.

 Renato festejava cada ligação, questionava de onde a pessoa falava, onde trabalhava, emendava conversas divertidas que faziam o ouvinte achar graça das respostas. 

Por conta disso, naquela época, eu desejava ser empregada doméstica para poder ligar para a emissora. 

Realmente exerci tal profissão, mas o programa já não existia mais.  

Já há alguns anos Renato Worm e eu somos colegas de trabalho e muito mais do que isso: bons amigos! 

Continuo sendo fã do seu trabalho e, especialmente, admiro a humildade que conserva desde o início da carreira, quando ouvia o radialista Lucindo Amaral para aprender com ele. 

(Dirce Becker Delwing - jornalista)

ABAIXO,  FOTOS QUE MOSTRAM ALGUNS MOMENTOS DO COTIDIANO DO RADIALISTA

 

Heron de Oliveira (E), Renato Worm, Erni Petry (político) e Ditmar Born (ao telefone)



 

O dentista Sérgio Kerbes (E) com Renato Worm, em 2007,
no aniversário do município de Arroio do Meio - programa especial da emissora.



A RÁDIO INDEPENDENTE INTEGRANDO A REGIÃO

Xyxo Barzotto sendo entrevistado para os 60 anos da emissora

 Natural de Roca Sales, formado em Artes Cênicas e Serviço Social, João Gilberto (Xyco) Barzotto realizou um importante trabalho na área de eventos e promoções sociais do Grupo Independente, onde atuou de 1975 a 1998.

O Departamento de Promoções surgiu devido à grande procura para  ajuda na organização de eventos.

Este trabalho junto às sociedades do interior funcionou tão bem que entidades das cidades viznhas pediram para que a rádio coordenasse as promoções delas. Duas de Arroio do Meio: Piscina Clube e Esportivo de Arroio do Meio; Duas de Estrela: Rio Branco e Sociedade Ginástica (Soges); Duas de Lajeado: Tiro e Caça e Sete de Setembro; e o Grêmio União (GREU) de Cruzeiro do Sul.

  

Xyco enfatiza que a emissora realizou um trabalho de integração destas sociedades. Tanto é que havia um calendário de eventos para evitar que ocorressem coincidências de datas. Fizemos o  Rainha das Piscinas do Vale do Taquari. Ficou tão grande que Roca Sales pediu para entrar, Encantado pediu para entrar. Era uma coisa de louco! Trabalhavam comigo o Wilson Feldens e o Jacy Pretto. Quem coordenava era o Seu Lauro.

Para as comunidades, a iniciativa teve grande importância, tanto é que, ainda hoje, elas procuram a emissora para as suas promoções. Um exemplo é a Festa do Colono Italiano de Picada Serra que a Rádio Independente acompanha há  mais de 30 anos.

O pessoal ligava para a rádio agradecendo a participação. Mandavam cartas dizendo que participaram da festa.  A criação do Departamento de Promoções da Rádio Independente foi um grande “boom” social em toda a região. Todo mundo ficava sabendo o que acontecia em nossas comunidades.

 
Na visão de Xyco Barzotto, para a Rádio Independente, este trabalho representou a conquista da credibilidade e  divulgou o nome da emissora e dos seus comunicadores que iam pra o interior. 

A rádio pode se orgulhar de ter feito isto. As comunidades do Vale passaram a se conhecer através deste trabalho.

JOÃO PEDRO MÜLLER FALA SOBRE A SUA TRAJETÓRIA NA EMPRESA

 Eu iniciei oficialmente na emissora no dia 1º de setembro de 1977. Mas antes disso eu freqüentava muito a rádio e aprendi a trabalhar como operador de áudio da sala de gravação. Fiquei como responsável pela sala da gravação de comerciais.

QUESTÕES SOBRE A  EVOLUÇÃO TÉCNICA DO SISTEMA DE GRAVAÇÃO

Um dos marcos da radiodifusão foi a evolução do sistema de gravação. Antes de 1977, quando eu vinha para a rádio, cheguei a pegar a fase em que os comercias vinham gravados em discos de vinil, em 78 rotações. Logo em seguida começaram as cartucheiras, que eram comercias gravados em fitas de gravador de rolo. Era colocado num cartucho e rodava um por um. Cada comercial tinha o seu cartucho. Depois foi evoluindo. Começou a era do áudio digital. Os cartuchos começaram a dar muitos problemas. Tinham que ser importados e começou a dificultar a importação. Então nós passamos a formatar os comerciais para a fita cassete. Cada comercial era gravado numa fita cassete.

 Esta mudança no sistema de gravação ocorreu por volta do ano de 1990.  João Pedro explica que as paredes internas do estúdio de gravação eram forradas com prateleiras especiais para colocar as fitas cassete ou, anteriormente, os cartuchos. Chegava a ter em torno de 300 unidades na sala. A emissora ficou trabalhando com este sistema enquanto aguardava por novidades.

O avanço seguinte e ainda mais significativo foi a gravação em minidisk. Este sim serviu para a radiodifusão. Nós trabalhamos muitos anos com minidisk. João Pedro explica que um único minidisk era capaz de armazenar todos os comerciais da emissora. No entanto, a maior evolução dentro da radiodifusão foi a chegada das novas tecnologias, em especial, o computador, que passou a ser usado no sistema de áudio da Rádio Independente no início da década de 1990.

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Em 1979, João Pedro Müller entrou para a área administrativa da empresa com a missão de auxiliar o pai no gerenciamento dos negócios, especialmente na parte técnica.

Desde 2003, ele é o diretor-presidente do Grupo Independente, onde além das funções de gestão,  participa de forma ativa da programação da emissora.

João Pedro comenta que ouve rádio o dia inteiro, não apenas a Rádio Independente e a Tropical FM, mas outras emissoras da capital. No entanto, o maior enfoque é a programação do Grupo Independente porque, sempre que considera importante, costuma  comentar com os profissionais sobre a  matéria  que foi para o ar.

Do pai, Lauro Müller, ele herdou o jeito simples, humano e carismático de ser e é dessa forma que interage com as equipes nas mais diversas situações do cotidiano.