Quando era criança, nos sábados à tarde, havia um ritual na minha casa que recordei recentemente. Meu pai, que hoje está com 73 anos, fazia a barba com uma solenidade ímpar.
Ele sentava na varanda da casa, pegava o espelho, daquele tipo com borda laranja que era vendido nos armazéns do interior, colocava sobre a mesa, geralmente escorado em alguma lata que dava a sustentação para que ficasse em pé. Depois, pegava uma bacia com água, a saboneteira, organizava o aparelho de barbear, não do tipo descartável como hoje. Era um instrumento de metal onde a pessoa substituía apenas a lâmina. Com uma espécie de pincel, ele espalhava espuma pela face e, então, fazia a barba.
Fui capaz de lembrar, com nitidez, daqueles tempos quando entrevistei Alfredo Lussani, o Nerlinho, para o Memorial Independente. Recordei da voz, que me era familiar, porque meu pai fazia a barba ouvindo o Nerlinho.
A questão que talvez me marcou é que ninguém podia dar um pio. Ganhei alguns xingões por conta disso. Acredito que era a hora em que meu pai organizava os pensamentos e se dava o privilégio de dar exclusividade ao radialista, um homem que, com o seu jeito simples, animado e criativo, soube cativar o coração dos seus ouvintes.
Nerlinho (à esquerda) com colegas da Independente, na década de 1980. |
A questão que talvez me marcou é que ninguém podia dar um pio. Ganhei alguns xingões por conta disso. Acredito que era a hora em que meu pai organizava os pensamentos e se dava o privilégio de dar exclusividade ao radialista, um homem que, com o seu jeito simples, animado e criativo, soube cativar o coração dos seus ouvintes.
Nerlinho (E) em 18/08/2010. |
Para eternizar as boas surpresas da vida, na ocasião da entrevista, tirei uma foto com Nerlinho e dei de presente ao meu pai.
(Dirce Becker Delwing)
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